Depois de uma hora na fila do Banco, pensei: começamos bem! Percebi que ele estava um pouco tenso, afinal era a sua primeira visita ao banco como cliente, e eu fiz questão de acompanhá-lo. Aos 14 anos já é um rapaz e finalmente chegara a hora de começar a pensar em dinheiro.
No caminho até ao banco, ele estava feliz e então aproveitei para dizer-lhe algo que eu queria ter ouvido aos 13 anos… que a independência financeira é umas das mais importantes liberdades que uma pessoa pode conquistar na vida, e que quanto mais cedo entendermos isso, menos dependência do dinheiro teremos, e mais livres seremos. Não é apologia ao dinheiro, é dar a “ele” a devida importância e respeito, conforme o ditado: “não existe almoço grátis!”
Ninguém consegue ser totalmente livre se não conquistar a liberdade financeira. Continuei explicando, mesmo ele revirando os olhos de tédio ao me ouvir falar. Filhos reviram os olhos ao falar de assuntos “chatos” com os pais, mas eu não me intimidei e afirmei: hoje é o seu primeiro passo, administrar sua mesada, transporte, conta do celular e lanches no colégio e para isso terá seu primeiro cartão bancário e terá de aprender toda essa parafernália de conta corrente, cartões bancários, senhas, taxas, segurança, planejamento, o custo de cada coisa e etc. Você vai gostar pois terá uma porção de senhas para decorar, (dessa vez, fui eu que revirei os olhos).
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Arquivo pessoal Sandra Almeida |
Ele me encarou e disse: “eu jogo games muito mais complicados, mãe! Será moleza”, disse rindo. Percebi que ele ficava tenso a medida que o atendente ia falando, apreensivo ao ler todas as regras e normas bancárias, senhas, cuidados e as devidas penalidades. Teve que deletar alguns aplicativos do celular e colocar o do banco, o totten de senhas, (sim, agora a senha é gerada no próprio celular, adeus chave de segurança) e viva a tecnologia. Se perder o celular, nem acessar a sua conta no banco conseguirá, Jesus! Após três horas, voltamos para casa em silêncio.
Nos primeiros dias, a cada ida à padaria era uma sensação, balas compradas com cartão, crédito no celular. Na escola achava o máximo pagar sua refeição com cartão e orgulhoso apresentava seu nome estampado naquele dinheiro de plástico. Mas lhe bastou um mês de liberdades, e os problemas chegaram. “Mãe: acabou o dinheiro e hoje não tenho como almoçar. Não sei onde gastei! O crédito no celular também! E o pior esqueci o cartão na cantina, depois caiu do bolso e o mais grave: perdi o cartão”. E agora?! A cara dele dava medo, mas respondi: – pegue os formulários e leia sobre as regras de perder cartão, senha e etc. e boa sorte. Na vida real as coisas são diferentes, não existem vidas extras, querido.
Não foi fácil para um garoto de 14 anos administrar sua conta, créditos no celular, almoço, transporte e a mesada (essa ele poderia gastar com o que quisesse). Esquecia o cartão e quando não, a senha, e quando estava com o cartão, esquecia o celular, e sem o celular, não tinha a senha, foi uma roda gigante esses dois meses, uma tortura. Sem falar nas duas horas no banco cancelando cartão, senhas, por duas vezes e etc. Ele misturou tudo e acabou voltando a ter que levar lanches de casa para não ficar com fome.
Mas no fim o saldo foi positivo: Ele aprendeu como é que o dinheiro sai da conta e em pouco tempo terá que aprender como é que o dinheiro “entra” na conta corrente. Aprender a construir a liberdade financeira, é uma questão de treino, e quanto mais cedo, melhor!
2 Comments
Excelente texto, idéias inspiradoras e práticas sobre o "valor" do dinheiro.
Sim Marcos Pires, saber o valor das coisas é muito importante para nossa liberdade e verdadeira felicidade! Aprendemos sempre com a Sandra…Mulher Sábia! Obrigada pelo comentário em nosso blog!