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27 de abril de 2020“Você vive em presença o seu presente?”
27 de maio de 2020Ando recebendo visitas inesperadas no trabalho. Elas invadem o home-office e tiram as coisas do lugar. Agora que mudou para casa e a casa virou também escritório, escola e parque, percebo curiosa que este novo velho morador, chegou chegando.
Reservei para ele um pequeno quarto, para que pudesse se acomodar, confortável e reservadamente. Porém, ele insiste em ocupar todos os espaços. Espalha suas coisas por todos os cantos, se lança sem pedir licença sobre o sofá da sala e, esparramado, segura firme o controle remoto da vida, com vivacidade espantosa.
Nesse pouco tempo de convívio no meu lar, já notei que ele não compreende ainda os limites e que onde houver espaço sobrando ele vai ocupar. Mas enquanto o trabalho grita, chora e esperneia, me pedindo toda a atenção, outros amigos ora distantes tem também me visitado sem avisar.
De vez em quando, as maritacas me visitam no fim da tarde, para comer jabuticabas da árvore que tenho no quintal e aproveitam para me avisar que o sol já encerrou seu turno. Barulhentas, do alto dos coqueiros, também no meu quintal, com suas asas de voar, elas me lembram que há tempo para trabalhar e também para repousar.
Visita frequente é a dos cachorros da vizinhança que, reclusos entre muros, se reunem em coro para pedir atenção ou avisar que algum estranho acabou de chegar.
Recebo também todo dia, a visita saborosa que trás notícias da cozinha e me convida a pensar, planejar e preparar as refeições que irão nos alimentar. Depois de tudo preparado, eu com o trabalho pausado, me sento à mesa para com ela almoçar.
Todas as manhãs, a primeira coisa que faço ao acordar é abrir a porta e deixar a natureza entrar. Ela vem de mansinho, delicada, deixando seu rastro de folhas secas caídas, poeira levantada e assentada em todo lugar. Ela sempre me convida para visitar o jardim e de mãos dadas falamos bom dia para as plantas que mais precisam de mim. Dou a elas uma gotinha de água e elas respondem, verdejantes, “muito obrigada, está suficiente assim.”
Enquanto o trabalho ainda dorme, esparramado no sofá, aproveito para cuidar de mim, me pondo em movimento e também aproveitando alguns momentos para fazer nada e fim. É este cuidado rotineiro que ajuda todas as coisas a encontrar um novo lugar para se acomodar.
Depois que o trabalho começa, é tanta correria e tanta pressa que até esqueço de quem sou e onde estou e é durante este tempo longo e quase intangível, que recebo não uma, mas várias breves visitas do meu esposo carinhoso que chega sempre perguntando se quero alguma ajuda ou se aceito um copo d’água ou xícara de chá.
A minha gata, chamada Preta, que não é visita, mas moradora titular, vem me fazer companhia todos os dias na hora de lavar, passar, ou de varrer o quintal. Ela se deita no chão ao meu lado quando vou para a rede contemplar o céu que cobre a nossa casa e por onde passa o sol, outro visitante habitual.
Mas a presença mais avassaladora de todas, entre tantos novos visitantes e moradores, é da pequena agente do futuro, que me lembra a todo momento que aqui é um espaço de amor, de abraços e risos soltos, gargalhadas, brincadeiras, cooperação, cocriação, criatividade, atividade e, mais do que nunca, me lembra que é de amor que preenchemos o nosso lar.
Uma casa repleta de amor. Presente. Pulsante. Forte, mas gentil. Um amor que educa e impede que cada coisa avance o espaço do outro, sem permissão. Um amor que abraça forte e acolhe todo sentimento que grita, chora e pede atenção, até que se acalme e se despeça deixando em paz o coração.
Nesta casa de visitantes, tão plural, as ideias germinam e se encontram na sala virtual, entre amigos e até desconhecidos que se reúnem para falar, ouvir e colaborar na intenção de imaginar que mundo novo está para chegar.
Já descobrimos que ele virá deste universo de sinapses que movimenta dentro da gente as mudanças necessárias para lidar com o mundo daqui de fora. Entre dois universos que se encontram em mim, o de dentro e o de fora, entre tantas visitas inesperadas a me acompanhar, me dou conta de que aquele velho grande amigo, o trabalho, sempre esteve ali, espaçoso, mas presente. Que com ele já vivi mais momentos alegres que tristes. Que ele sempre esteve ao meu lado para me apoiar e aconselhar quando os problemas pareciam difíceis de solucionar.
Noto só agora que ele também, o remoto trabalho, está tentando se adaptar e me lembra que, com tantas novas visitas para acomodar, podemos abrir uma roda na grande sala da vida, para que todos nela venham se sentar. Cada um no seu tempo, no seu ritmo e que fique o tempo que precisar.
Percebo, enfim, que neste novo mundo eu também sou visitante desta casa gigante que me recebe dizendo: “seja bem vinda, pode chegar, aqui todos estão de passagem, mas enquanto permanecem, sabem que o grande trabalho a fazer é amar e cuidar.”
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