Confit de tomate da @cozinhadatata
25 de maio de 2019Você aceita a sua vulnerabilidade?
3 de junho de 2019Olá leitores do Felicidade Sustentável,
Em nenhum momento da história da humanidade o eu foi algo tão valorizado como no final do século XX e início do século XXI. Cada geração vive seus desafios, suas transformações como influência de um contexto sócio-histórico.
Pensando já no século XXI, nos defrontamos com uma sociedade cada vez mais aberta e em busca de caminhos para o bem-estar, felicidade, harmonia e sucesso. Uma população cada vez mais conectada por meio de aparelhos eletrônicos, podendo acessar milhões de informações, participar de inúmeras redes sociais, se expondo em eventos presenciais ou on-line, podendo divulgar seu eu, suas exigências, sua opinião e suas demandas. Uma geração que fala, que se leva em consideração, que foi ensinada a ser independente para que possa usufruir de sua liberdade.
Se a geração dos anos 50 e 60 do século passado viveu contextos em que se priorizava o senso coletivo , atitudes de subserviência pela ditadura; a geração dos anos 80, 90 em diante foi educada para viver seu máximo de liberdade, independência e, sem dúvida, isto trouxe muitos movimentos positivos, experiências importantes para o desenvolvimento de uma nova geração, através de aumento de confiança em si mesmo, de expressividade, de valorização, de descobertas.
Contudo, o excesso da cultura do eu e da independência ficou dominada pelos valores individualistas, restringindo o indivíduo na sua capacidade de se relacionar com o outro. Nascemos seres e nos tornamos humanos a partir das nossas experiências, que implica em uma relação com nós mesmos, com o outro e com o mundo.
Se por um lado a relação com quem somos ganhou força e ênfase para uma auto afirmação na formação de uma identidade, por outro lado nos tira força quando esta postura individualista ocupa um espaço exacerbado, não abrindo oportunidade para um diálogo com o outro. Este tipo de experiência pode ser percebido, por exemplo, em consultório na busca por terapia de casal.
Quando chegam ao consultório, a primeira coisa que posso perceber é como se sentem sozinhos na sua relação conjugal. Quando pergunto o que faz ficarem juntos, pensam por alguns minutos, não respondem e entram em processo de crítica e acusações. Em seguida, aparecem os sintomas da vivência em casal, críticas, acusações, atitudes defensivas, indiferenças, desprezos na busca de que algo novo aconteça.
Cada atitude tem seu efeito e, algumas vezes, gera resultado, não podemos negar, contudo, resolver é diferente de solucionar. O episódio pode até se resolver com uma pitada de desprezo, todavia a solução está longe de ser alcançada, pois após um conflito o que se faz necessário é a reconciliação através de uma conexão. Conexão pressupõe entrar em contato, elaborar, reconhecer, dialogar e se abrir para um novo encontro com o outro, de um lugar respeitoso e humilde.
Os desafios para que um casal cresça na sua relação passa primeiramente pela uma boa escuta. O que é se abrir para compreender suas próprias necessidades e, desta maneira, ampliar a visão acerca do que se exige do outro.
Quando nos abrimos, podemos nos acolher e verificar que o que almejamos não é ter razão e sim ficar junto, ter a companhia do outro, a presença, o olhar, conseguir dizer o que nos incomoda de um lugar em que não seremos julgados, e sim acolhidos. Como ser acolhidos se a discussão se inicia a partir de julgamentos e acusações? Boa comunicação garante momentos de mais harmonia entre o casal, uma vez que ambos se sentem ouvidos e considerados.
Na cultura da valorização do eu, eu espero do mundo, eu exijo do outro sem me dar conta de qual é a minha responsabilidade no processo de se relacionar. O diálogo é fundamental em uma relação e este pode ser frequentemente melhorado, ampliado a fim de gerar prosperidade e crescimento.
Calar-se, ignorar, ser indiferente são atitudes que de fato acumulam ressentimentos, geram más compreensões e ao longo tempo distanciam o casal. Quantos casais estão distante, porém casados a partir da postura acima. Se investimos tempo para a cultura do eu porque não investirmos na cultura do nós?
O outro nos traz sempre uma grande possibilidade de crescimento, pois é a partir de uma relação que conseguimos descobrir mais sobre nós mesmos. O outro nos engradece, a partir do momento em que nos abrimos para viver experiências que nos tragam mais reportório a respeito de quem somos, como somos neste ou naquele contexto, quem não somos mais e quem gostaríamos de ser.
O inferno não são os outros, o outro é um presente!
2 Comments
Texto impecável da Paula. Fala bem sobre o nosso dia-a-dia.
Querido Frank , contente por saber que o texto pode tocá-lo . Obrigada pelo seu comentário !