Você sabia que o coco é um superalimento?
7 de fevereiro de 2019Dois hábitos sustentáveis que trazem felicidade
19 de fevereiro de 2019Eu olhava para as minhas coisas, uma porção de livros, algumas pilhas de roupas, caixas com utensílios, aparatos de cozinha, e pensava: “será que sou em quem as possui, ou o contrário?”. Foi há uns 3 anos. Eu contabilizava os meus excessos, o acúmulo dos objetos que ocupavam áreas talvez pouco conhecidas da minha vida, as papeladas que preenchiam a minha existência, enquanto eu tentava lidar com múltiplas escolhas mundo afora, cada uma delas com suas caixas e pacotes.
Naquele momento, as coisas eram minhas donas. Eu havia seguido todo o protocolo, estudado em bons colégios, diploma, emprego, carreira, e no decorrer dos anos as coisas foram tomando conta, foram invadindo frestas, e quando me dei conta, estavam ali juntando poeira desnecessariamente. Nem vi o tempo passar, imersa no correr das horas dos objetos. Eu não tinha tudo o que eu queria então, mas me dei conta que o que eu tinha era bem mais do que eu precisava.
Essa história aconteceu comigo, mas não me sinto especial por isso. Vivemos em um mundo que convida para os excessos, e distrai nossos afetos na rotina de consumir. Com o passar dos anos e dos dias, acabamos caindo na dinâmica de trocar o que importa, nossas horas, nossa energia, às vezes, nossa saúde, por experiências de consumo que alimentam os motores da nossa “felicidade cotidiana”, e até chegam a se misturar com um esboço de quem somos.
Mas chega um momento em que a gente ou conquista tudo o que queria, e descobre que não era exatamente aquilo que imaginávamos, ou coloca fé demais na próxima ocasião de felicidade instantânea, sempre disponível no consumo de imediato. Essa dinâmica insaciável acaba nos levando ao desgaste. Quando esse tipo de crise nos encontra, não tem escapatória. Acabamos por perceber que a felicidade genuína e as coisas que consumimos tem muito pouco em comum. Começamos a olhar para dentro, e nesse mergulho, podemos enxergar outros caminhos.
Diante de tudo, mergulhei em mim mesma e encontrei o minimalismo
Foi num mergulho desses que me encontrei profundamente com o minimalismo. Eu tinha morado em Singapura por um ano, um país encantador que me acolheu e que considero um segundo lar, onde o modelo mental que temos no Ocidente de sociedade perfeita existe e tem endereço. Sendo um país jovem de pouco mais de 50 anos, Singapura conseguiu a proeza de se tornar um modelo de crescimento econômico, um verdadeiro tigre asiático onde o acesso a bens de alto valor aquisitivo, viagens glamurosas e outros objetos de desejo estão relativamente disponíveis a uma população altamente educada.
Ainda assim, me intrigavam os relatos de ansiedade e infelicidade que muitos dos meus amigos partilhavam por toda a ilha. Manter um estilo de vida pautado em alto poder de consumo nem sempre significava felicidade.
Minhas inquietações com os reflexos de Singapura na minha própria vida me levaram a percorrer alguns horizontes tentando compreender a felicidade genuína, e nas minhas andanças, pude estudar um contraponto no Butão. Famoso por conceber o conceito de Felicidade Interna Bruta como alternativa ao Produto Interno Bruto, o país me pareceu um ato de coragem entre os apetites da Índia e da China em pleno desenvolvimento acelerado. No Butão, a cultura budista, o senso de comunidade e concepção da possibilidade de uma vida de subsistência apontam para a ideia de que outras dimensões de felicidade são possíveis, dependendo da forma como articulamos o que realmente importa em nossas vidas.
O resultado dessas duas experiências coube em duas malas de viagem. Durante quase dois anos, exercitei viver com esse volume reduzido de coisas. Minha proposta era encontrar o essencial, e para isso eu precisei olhar com atenção para o papel e o valor de cada objeto ou experiência que eu consumia. Confesso que não foi fácil e eu percebi a dificuldade que pode existir em desapegar. Ainda tenho muitos livros e algumas roupas que não foram embora de uma única vez.
Ainda assim, a simples proposta de fazer mais da vida com o menos possível, vem provocando transformações profundas na minha forma de ver o mundo e compartilhar da realidade. A vida sem tantas coisas vai ficando realmente mais leve, e abre espaço para outras possibilidades. Meu espaço mental que antes era compartilhado com tudo o que eu tinha que manter está cada vez mais livre para sonhar e para criar. Os medos que eu tinha de perder tudo não fazem nenhum sentido quando tenho apenas o que preciso. O tempo se expande nessas coisas, são pequenas poupanças que fazemos para doar à pessoas, relações e atividades que realmente alimentam nossa alma.
Abaixo alguns aprendizados que considero importantes para construir um estilo de vida minimalista:
- Conheça-te a ti mesmo. Saiba distinguir suas reais necessidades de desejos ou projeções. Muitas vezes o que achamos que precisamos não passa de uma fuga ou distração daquilo que realmente pode nos satisfazer.
- Seja gentil. O processo do desapego é um verdadeiro ato de coragem, e por isso mesmo é um processo que não precisa acontecer de uma hora pra outra. Não existem imposições nem fracassos, apenas a jornada.
- Trabalhe a conexão com a sua essência. Práticas contemplativas como meditação são capazes de despertar um contentamento muito profundo porque nos colocam presentes no aqui e agora, onde não existe nada o que ter ou o que buscar. É impressionante como esse tipo de atividade contribui para nos sentirmos completos e inteiros como realmente somos.
- Faça do desapego um ritual. Organize momentos na rotina para remover os excessos e recalibrar.
- Valorize o material. Pode parecer uma contradição já que estamos falando de reduzir o consumo, mas uma das melhores formas para isso é dar preferência a objetos que foram feitos para durar, como itens de moda atemporal de boa qualidade.
- Pratique a gratidão. Sempre que estiver diante de um objeto, exercite trazer para a consciência todas as pessoas e interações envolvidas no processo para que ele chegasse até você. Imagine que bonito celebrar em cada ocasião de consumo essa conexão com a teia da vida?
Venho descobrindo no minimalismo não somente uma outra forma de conviver com o mundo fora de mim, com as coisas que me cercam, mas também um caminho para olhar para dentro. Nessa coluna para o Felicidade Sustentável, vamos conversar mensalmente sobre isso. Espero que essa seja uma linda jornada para explorarmos juntos o que é essencial.
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Forte Abraço,