Sei que você pensa na palavra globalização e logo se assusta, ao invés de achar que se trata de uma verdade genuinamente voltada para unir as pessoas. Mas isso tem tudo a ver comigo e com você, principalmente com esse excesso de informações que despejam sobre nossas cabeças. Sim, posso compreender o quanto é difícil, após os trinta, ou antes disso, ficar ouvindo os familiares dizerem que já está na hora de casar. Mas quem disse que casamento tem hora se ele é uma consequência de um amor que está dando certo e esse amor não pode ser adquirido como um produto? Há coisas que simplesmente acontecem, mas você tem dificuldade para esperar?
Vejo, mesmo estando tão longe e perto, que você sofre por ter chegado aos quarenta, ou antes disso, e todos ficarem lhe interrogando e querendo saber quando você assumirá um cargo de gerência? Sei que a pressão lhe magoa, mas é a consequência da má utilização do que se propôs a ser na vida. E eu estou indo embora.
Onde moro não é mais importante acumular, e sim viver em paz com o que se tem. Por isso, entristeço-me tanto por vê-lo, rotineiramente, batendo o ponto do trabalho, com hora para entrar e, às vezes, sem hora para sair. E quando sai você come um lanche rápido, nesses tais fast-foods da vida. E depois vai para casa com o sentimento de que é mais um na multidão. Porém, no fundo, sabe que não é, e que as coisas que faz são, muitas vezes, indispensáveis, pois todos têm rotina, até eu. O que não se pode é deixar seu coração ser invadido pelo sentimento de que você é apenas servo do sistema capitalista. Eu não suportaria pensar que você se sente assim todos os dias.
Você não sabe onde eu estou, nem qual é a cor dos meus olhos, muito menos quantos anos tenho. Mas eu lhe vejo todos os dias, acordando, pulando da cama, tomando o café em um único gole, depois se vestindo com a primeira roupa que encontra na gaveta bagunçada como seus pensamentos.
Então, tudo que faço é ficar triste por vê-lo assim, apressado, expositivo e, rotineiramente, auto-piedoso. Houve dias em que preparei o pão mais tarde nas padarias da vida, para que você tivesse tempo de tomar o café da manhã olhando nos olhos de seus familiares, antes que eles morressem, mas sua pressa o fez perder a fome. Eu o respeitei por isso. Houve noites em que atrasei o trem e o ônibus para que você pudesse ver quantas crianças pedem um prato de comida ao seu lado, porém a sua vontade de chegar logo, porque você sempre tem mil coisas para fazer, o fez ignorar duas outras crianças, que naquela ocasião eram seus filhos, e a rua em que estavam era sua sala de estar. Eu chorei nesse dia.
Será que você não percebe que estou tentando lhe ajudar a não ser mais um? A insegurança machuca e deixa dúvidas em sua alma, mas você parece ter se conformado com seus golpes violentos, por isso está correndo tanto, por isso você quer acumular mais, adiantar os passos, gastar mais e, todo dia, se perder um pouco mais. Não são essas coisas que estão lhe ensinando? Mas, diante de todas essas verdades, como se acha um sentido para a vida? A primeira maneira de encontrá-lo é, antes, querer parar de correr. Você quer?
É preciso, urgentemente, buscar o equilíbrio, porque eu estou passando, e não posso sentir piedade de você. Então, por favor, não espere ter rugas para perceber que a coisa mais importante que você tem, sou eu. Prazer, me chamo tempo, mas um dia posso ser arrependimentos. Por isso, me usem para aperfeiçoarem-se, porque nunca me terão o tanto que gostariam. Mas, também, não se matem para me seguir, porque, sinceramente, não vale á pena.
Jared Amarante é jornalista, roteirista e tem quatro livros publicados. Sua carreira começou aos 17 anos quando publicou seu primeiro livro, em Portugal. Hoje é um colunista do Felicidade Sustentável, sempre escrevendo sobre sentimentos e comportamento.
2 Comments
Parabéns pelo belo texto, muito inspirador!!! Amei!!! Grata!
Dilma, toda gratidão sinto eu. #estamosjuntospelaspalavras 😉