Um convite ao saboroso protagonismo da sua vida
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27 de julho de 2019As pessoas estão cada vez mais preocupadas com o comportamento alimentar – seu e dos outros – mas ainda não encontraram um caminho sustentável para ter uma alimentação saudável e feliz. Por quais motivos comemos demais?
Conversas entre amigos, familiares e colegas de trabalho tratam frequentemente da aparência física, do peso corporal, o que comeu ou deixou de comer, dietas, controles alimentares, procedimentos estéticos, e até cirúrgicos, para perda de peso.
Somando-se a isso, a cultura de dieta e de um corpo ideal – que é reforçada pela mídia, moda, publicidade e meios de comunicação – “ensina” que é necessário “dominar” o que se come, que magreza é sinônimo de saúde, beleza e virtude; e, portanto, “quanto mais magro, melhor”.
Além disso, o sobrepeso e a obesidade são freqüentemente associados à falta de disciplina e de força de vontade; sendo bastante comum ouvirmos relatos de culpa, vergonha, remorso e impotência das pessoas que não conseguem controlar o que comem.
E nesta temática, quanto mais o controle do que se come é acirrado e os hábitos de vida vão piorando, mais parece ser produzido um descontrole alimentar. Curiosamente, é nessa mesma cultura que a obesidade e sobrepeso têm apresentado índices crescentes. Segundo a OMS, a obesidade e o sobrepeso quase triplicaram desde 1975. E no Brasil, a pesquisa recente do Ministério da Saúde constatou que mais da metade da população apresenta sobrepeso e quase 20% tem obesidade – índices também crescentes ao longo dos anos.
A sociedade parece mais interessada em criticar e tentar “consertar” as pessoas que estão “acima” do peso, do que buscar o entendimento mais profundo do problema. Tal abordagem não parece produzir resultados efetivos, apenas cria milhões de pessoas frustradas e ainda mais angustiadas com seu corpo e com a forma que se alimentam.
A compreensão mais ampla do problema passa por buscar os motivos mais profundos que levam as pessoas a serem dominadas pelo desejo de comer muito além do que seria sua necessidade fisiológica.
Uma das proposições é que a dificuldade está em conseguir lidar com os sentimentos negativos (como solidão, tédio, indecisão, carência afetiva ou sexual, frustração, perda, mágoa, dor, tristeza, fracasso, abandono etc.) utilizando-se de formas alternativas à comida.
Sobre os efeitos de comer com excesso: ansiedade, culpa e mais comida
Apesar do efeito imediato após comer excessivamente ser de prazer, frequentemente é seguido de culpa e ansiedade. O que leva a pessoa a comer de novo para aliviar tal culpa e ansiedade, criando ainda mais culpa, necessidade de mais comida e, assim criando, um círculo vicioso.
Para a Psicanálise, os desejos não realizados (frustrações) ou perdas precisam, ainda que temporariamente, encontrar um modo de serem resolvidos ou, melhor, serem significados. Algumas das possibilidades para resolvê-los, então, seriam por meio da fala (expressar o que se está sentindo), ou de simbolismos (como arte, sonhos, rituais etc.). Então, em linhas gerais, as emoções sentidas (principalmente as negativas) precisariam encontrar um modo de ser verbalizadas ou externalizadas.
O que ocorre com os casos de sobrepeso e obesidade é que a pessoa, na falta de outra possibilidade, encontra, no corpo (tanto no ato de comer excessivo quanto nos muitos quilos excedentes), uma maneira de significar aquilo que não pode ou não consegue expressar por intermédio da fantasia, sonho ou linguagem.
Outra proposição, é que o comer excessivo busca suprir necessidades humanas (que parece não sentir atendidas) de proteção, sexualidade, força, limites, criação, estabilidade, maternidade, afirmação e raiva. Neste sentido, ato de comer vorazmente parece também estar de alguma forma associado à busca (ainda que irreal) de segurança ou, ainda, à busca de retornar ao estado de satisfação plena (aquele estado em que teoricamente vivíamos quando bebês).
A pessoa que não consegue assimilar traumas e perdas, por exemplo, acaba somatizando no corpo físico quando come excessivamente para não sentir e sofrer uma perda, substituindo o processo de luto por comida. Além de não conseguir resolver a perda, este comportamento acaba rapidamente resultando em problemas de obesidade e todas as co-morbidades associadas (diabetes, problemas cardíacos etc.).
Dessa forma, o caminho para um comer mais feliz começa por conseguir verbalizar (e significar) as emoções. Este processo pode inicialmente ser sentido como muito ameaçador, mas com apoio e paciência torna-se mais tranqüilo. Em muitos casos, a psicoterapia e apoio podem ajudar bastante. Comer consciente não significa comer regrado ou controlado, e sim, comer ciente das suas emoções e em contato com sua fisiologia.
Referências bibliográficas:
SARUBI, Estefânia Bojikian. Uma Abordagem de Tratamento Psicológico para Compulsão Alimentar. Dissertação (Mestrado em Psicologia). Universidade Dom Bosco. Campo Grande – MS, 2003. Disponível em: https://site.ucdb.br/public/md-dissertacoes/7826-uma-abordagem-de-tratamento-psicologico-para-a-compulsao-alimentar.pdf Consultado em 30/06/2019.
VARELA, Ana Paula Gramacho. Você Tem Fome de Quê? In:_ PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2006, 26 (1), 82-93. Universidade Estácio de Sá. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pcp/v26n1/v26n1a08.pdf. Consultado em 30/06/2019.
Código de Ética Profissional do Psicólogo. https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
Imagem de Gino Crescoli por Pixabay
2 Comments
Adorei o texto!! Como é importante ter o espaço e o tempo para se expressar… que eu possa sempre permitir aos outros esse espaço e esse tempo, sem julgamentos ❤
Oi Flavia que bom que gostou! Fique sempre conosco que muitos textos e reflexões virão! beijos