O quanto seu bem-estar está prejudicado pelo medo que você tem do espelho?
6 de novembro de 2015Se não envelhecêssemos…
13 de novembro de 2015Todos os dias às 5 horas da manhã já acordava me sentindo cobrada e atrasada – e era apenas um dia comum de trabalho. Como sou divorciada e moro com meus dois filhos não tem divisão: todas as tarefas de casa passam por mim. Convencer os filhos a irem para escola, uniformes, lancheiras, escovar os dentes, reclamações, promessas e beijinhos apressados.
Cardápio do jantar e do almoço na cabeça memorizando para ganhar tempo, lista do supermercado na bolsa, marcar dentista, ortopedista e oftalmologista para os filhos, abastecer o carro, pagar contas, ligar para o pai que andava doente, verificar as agendas escolares, pegar o livro do mestrado para ler no almoço, rascunhar o relatório sobre a reunião de ontem para o chefe, enviar uma dúzia de emails e ler outro tanto durante o café e, então, ir para a rotina diária de 13 h de trabalho.
Ufaaaa…tarefas de uma mulher maravilha moderna, sem superpoderes como nas HQs e desenhos animados!
Essa é uma história de verdade, igual a de milhares de mulheres que, como eu, estão no mercado de trabalho e ao mesmo tempo são esposas, donas de casa, mães, amantes, estudantes, conselheiras, amigas, filhas e o que a sociedade moderna exigir. Tudo isso sem deixar de ter bom humor, obviamente ser magra, cabelo escovado, ser ética e amorosa…
Um dia, ao sair para o trabalho, vi de relance a foto do caçula na parede da sala. Ele sorria um sorriso banguela de bebê. Senti saudades. Ele cresceu. Onde estava que não vi o tempo passar? Tive medo da resposta. Fechei a porta com a famosa culpa materna pesando nas costas e com a desculpa “é para o bem deles”, aí parei.
Mas o bem deles não poderia ser à custa da minha infelicidade, pensei. Fiz uma análise fundamentalista da situação, desenhei o pior cenário, classifiquei os riscos e chamei a família para conversar. Deixei casa, família, mercado financeiro, Bolsa de Valores, taxa do dólar, crise financeira de lado. E desenhei o projeto “Volta ao Lar”.
foto de arquivo pessoal |
Como voltar ao lar depois da luta das mulheres pelo espaço no mercado de trabalho? E a Simone de Beauvoir, a igualdade de direitos, a queima de sutiã em praça pública, a música da Amélia mulher de verdade? Virar dona de casa depois dos conference calls negociando contratos milionários? Foram 10 dias de insônia e uma certeza, volto para casa com todas essas guerras ganhas! Ficar em casa agora é opção e não obrigação. Mãos à obra.
Após a negociação da minha saída e a certeza de que tinha apenas uma pequena reserva financeira para os próximos passos, defini um plano de ação. A estratégia era administrar o lar, trabalhar em períodos alternativos para diminuir o custo de empregadas, babás e motoristas, que consumiam 30% do salário, combinar colégio das crianças, atividades físicas, trabalho fora e dentro de casa. Resumindo, o plano ficou assim:
ü Reduzir em 45% as despesas domésticas, caso contrário, as reservas não durariam nem 18 meses.
ü Troquei empregada mensal por semanal: redução de 15%,
ü Dispensei transporte para os filhos: economia de 7%.
ü Cancelei academia e atividades extracurriculares das crianças e nos matriculamos em cursos gratuitos. Redução de 7%.
ü Supermercado de mensal para semanal, e lista na mão, frutas e legumes compraria em sacolões e feiras livres: economia de 10%.
ü Revi algumas contas de consumo (internet, telefone, celular, gás, luz, água): redução de 15%.
ü Aprendi manicure e a cuidar dos cabelos: redução de 7%.
ü Roupas, só uma vez ao ano, compradas em liquidações: economia de até 25%.
ü Viagem de férias com poupança mensal, passagens aéreas antecipadas e noturnas, destinos menos badalados e surpreendentemente mais exóticos.
ü Aprendi a cozinhar. Comida “chique” só final de semana.
ü Investimentos são mínimos, por enquanto: poupança mensal de 10% das receitas, que agora são variáveis.
Esses 15 meses de volta ao lar foram dignos de um gladiador. Conscientizar-se de todas as formas de desperdício, não só financeiro, mas afetivo, moral, intelectual e emocional é um processo para a vida toda. Sabemos que estamos no início, mas os resultados são imediatos.