Quando devolvem o amor-próprio?
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3 de junho de 2015Eu prefiro, tão bem, viver uma licença poética crônica. Viver de licença, da licença de não ter que pedir nada a ninguém. Nada ao tudo, já que as grandes coisas, que dão para a vida, surgem como que numa cartola mágica. Espontaneidade, agradeço.
A poética é caso de poucos, pra poucos. A poética é um turbilhão bobo, um evento banal e corriqueiro, pintado à mão de criança. Sim, a poética é um estilo de vida completamente pueril. O que está nessa inocente graça são coisas que não sabemos usar, esquecemos, deixamos para trás. Vem desde um passado recente, de qualquer bala que adoçava o dia, ou do gesto carismático de mandar beijo para alguém, suscitando outra comoção sem sobrenome.
Licença, isso vem de nós. Isso é um rompimento, quebra de silêncio, uma anistia à falta de virtude. Que duro é se permitir, que duro é se deixar, que duro é ser alguém. Licenciar-se, não tem a ver com outrem, tem a ver com nós. É como esmagar as convicções que não servem, os preceitos do mau-humor, é mostrar o dedo do meio para um lado negro que se joga feito pessimista.
E de licença poética é cozinhado o jargão “Viver a vida”. Entendo, sendo desses dias chuvosos que nos encharcamos sem querer, segurando uma risada altissonante, feitos meninos e meninas chutando a poça que reluz. E vai saber se o que gente precisa é realmente tomar um banho de chuva. Ou se a gente precisa por o som no último volume, saltar pela casa com um microfone imaginário: “Tomando o mundo feito coca-cola”. Mas a gente pode precisar de um par, alguém para dançar, mesmo não sabendo, de encontrões que deem em nariz no nariz.
De toda essa licença, quero esquecer meu tempo perdido com trabalho, com amor não correspondido, com carteira vazia, com a última conta que está pendente desde a semana passada. Quero mesmo é me perder, encontrar-me noutro canto que aparenta ser estranho, mas que me faça outra existência. Deixar de ser eu, ser um eu – lírico mais fantasioso do que factual. Ou seja, o que quero é um nome sem pronúncia, que eu não sei pronunciar.
Do tempo, só quero o que é meu. Honestamente, é só isso que quero. Ainda assim cobro tim-tim por tim-tim, por que minha vida é pouca, e ainda sinto o mundo como uma bola gigante que não sei chutar. Por isso que acho perda de tempo a neurose com dieta, café sem açúcar, megalomania em encontros esporádicos, estar de mal como no “prezinho”, deixar para depois o que faz bem, ou toda aquela encheção de institucionalizar o que é ser “bem-sucedido”.
Quero licença, quero poética. Quero ser o contrário do que dizem de mim, não por revelia adolescente, mas por maturidade de quem vislumbra o sentido disso aqui. O sentido disso aqui que nos deixa confuso, que não sabe se fazemos certo ou errado, se estamos indo bem. O sentido disso, cunhado como “vida”, pela qual, cada vez mais, associo a uma grande asa que – em nós – não voa como deve.
Permito-me rascunhar em mim,
Permito-me dar de louco e de troco,
Até topo escutar os absurdos que falam de mim com tamanha paciência de minha ironia.
Mas eu quero mais, algo como pegar a lua e colocar num pote de vidro, feito pirilampo.
Algo como pegar alguém que me vire de ponta-cabeça…
Acho que é por aí que está…