Celebre-se
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1 de setembro de 2020Hoje Liv pegou o microfone e o celular e sem eu perceber gravou uma música. Ela também tem participado, do jeito dela, do movimento #generosaidade.
Liv é tagarela, fala tanto, o tempo todo, que tenho a impressão que ela mora dentro da minha cabeça. Mas nos últimos dias ela andava tristonha. Falando pouco. Quando eu tentava interagir, ela dizia apenas “para de falar” ou “que chato”.
Efeito do isolamento e da quarentena da quarentena dos últimos 15 dias, isso mesmo, não leu errado. Depois do teste positivo de Covid-19 que surpreendeu a todos e nos deixou, além de isolados, mais preocupados.
Liv passou sem grandes complicações pelo Covid-19. A única coisa que mudou foi que notamos que para ela o isolamento anda “muito chato”. Primeiro porque não encontra ninguém para brincar, nem crianças nem adultos. Segundo porque nós, os adultos da casa, andamos trabalhando demais, sem tempo nem paciência para brincar, nem para ouvi-la falar sobre o que pensa e sente.
Entre os adultos, andam crescendo os índices de depressão e ansiedade e o consumo de substâncias psicoativas, como o álcool. Pesquisa divulgada no Estadão, na primeira semana de agosto de 2020, demonstrou aumento de 72% no consumo de vinho entre os brasileiros no segundo trimestre atingindo marca histórica na quarentena.
Será que andam pesquisando também o que está acontecendo no mundo das crianças na idade pré-escolar? Desconheço pesquisas durante a pandemia, mas imagino que esteja ainda pior que a gente, já que elas não estão trabalhando, nem estudando, nem usando substâncias psicoativas. Aqui em casa, só resta a companhia do celular e da TV, a maior parte do dia.
Lembrei do Relatório Mundial da Felicidade de 2019, e do capítulo que abordou “o triste estado de felicidade nos Estados Unidos e o papel da mídia digital.” Os estudos indicaram que a grande quantidade de tempo que os adolescentes passam interagindo com dispositivos eletrônicos pode ter ligações diretas com a infelicidade e/ou pode ter deslocado um tempo antes gasto em atividades mais benéficas, levando a declínios na felicidade, como mostra o relatório.
Isso para não falar do efeito nocivo das mídias digitais sobre o nosso cérebro, semelhante ao das substâncias psicoativas, causando danos em áreas importantes do cérebro como o córtex órbito frontal e levando a um novo tipo de dependência, o vício em internet. Nas crianças, ele afeta o desenvolvimento e pode ser ainda mais danoso a médio e longo prazo. Basta olhar para os números de ansiedade, depressão e suicídio entre os jovens. Como aponta a OMS, o suicídio já é a segunda maior causa de morte entre os jovens de 15 a 24 anos.
Mas voltando à Liv, que ainda tem só 5 anos, e a mim, bem cansada, hoje resolvi parar e resolvi ouvi-la falar. Entendi que o que ela sente é o mesmo que eu, falta de gente, de conexão afetiva e real, de amor e gentileza. Parei para vê-la tomar banho, para assistir desenho com ela no sofá, para passearmos juntas, correr na grama e olhar para o céu. Parei no seu abraço e me perdi no seu sorriso. Nos encontramos nesta pausa cheia de vida.
Caiu a ficha de que eu também ando achando muito chato ficar em casa, trabalhando tanto, sem ver o dia amanhecer nem entardecer. Como se fosse um ratinho girando na roda.
Que chato!
Hoje, depois que desci da roda infinita do “a fazer”, fui ver e apagar as fotos e vídeos que ela gravou e consumiram toda a memória do celular. Para minha surpresa, encontrei esse vídeo que fala dela e fala também de mim. Do amor pela vida que não pára e que está entalada na garganta querendo rir em vez de achar tudo chato. Querendo ser em vez de “a fazer”. Querendo olhar e abraçar o lado alegre da vida.
Foi no encontro da minha calma com a alegria da Liv que consegui ver e ouvir o que de mais sensível ela tinha para me dizer. “Hoje é o melhor dia”!
Obrigada Liv, por me oferecer esse amor ensolarado, todos os dias. Ainda que eu não perceba passar o tempo, entre o amanhecer e o entardecer, sua presença e sua insistência por atenção me ajudam a compreender o quanto preciso de gente e de pausas para viver de verdade e com qualidade.
Já que a vida não pára, o melhor que posso fazer hoje por nós mesmos e pelo mundo é expressar o meu amor aos quatro ventos, junto contigo, seja falando, escrevendo ou cantando.
Te amo!