Se acostume: as pessoas vão embora
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21 de setembro de 2016Na moda de um novo amor, na voga da novidade liquidez, faltou algo que ditasse o rumo. Sentia falta de algo, enquanto outro sentia acolá, igualmente. Era a falta de sustentabilidade afetiva que nos ausentava, incompletava, era adornar o que de nós dá sustento. Quando nossas emoções sustentáveis geram sentimentos sustentáveis?
Foram coisas assim que premiam, urgiam, rugiam sem saber. O nome disso, a nomenclatura daquilo. Tão esquecidos numa rotina polvorosa, de discursos decadentes, que se contradizem por novidade. Eu apenas me calava na indagação de uma novidade por novidade. Ser novidade só por ser. Isso que amanhã é descartável, como copo plástico, pessoas de plástico e afins de plástico. O que era a cultura do “novo”, agora já é tarde, como o vai e volta de nossas vidas, indo e vindo no espelho embaciado do banheiro.
Fotos trocadas, post´s veraneio de uma vida boa, caras gentis, contrastes reais. O antiquado como cortês, num eufemismo lírico do que fora velho. Um tanto do que gosto, ligar para alguém, os encartes dos cd´s, o marca página no centro da página de autoajuda, escrever no papel. Entusiasta, saudosista, um copista de meu tempo e textos. Ainda me orgulho de não dizer que amo a cada mês, hora e segundo. Entendo que tudo é tão rápido, tudo quanto raso, tudo quanto antiquário de nós mesmos.
Ainda ausenta, ainda carece, fenece. Descreio que tudo se constitui fugaz, rápido de mais, moderno de mais. Tudo é pouco a pouco, ponto por ponto, longa expiração e inspiração. Seria segredo não cuidar do que já temos, nem sempre nos falta, quando quase sempre sobeja. Mal se agradece, mal se cultiva, num clima cheio de ideias de muito “mi-mi-mi”, que fala e não vive de si. Gente de mais, fala de mais, pouco de mais.
Como vivermos na essência, diante de tanto “mi-mi-mi”?
Será a hora de repensarmos, reamarmos, redesenharmos, resermos, reescrevermos. Será a hora em que correspondo à tua mão que me procura, aos teus gestos pidões, ao teu descontente dia em súplica por dias melhores. Hora de ligar para amigos do tempo da escola, procurar quem não me procura, desligar o celular e brincar de telefone sem fio ao pé do ouvido. Seja o instante de apagar a luz, viajar, ir ao ponto mais alto da cidade, comer no melhor restaurante uma vez, pôr mais vinho no copo, dançarmos até o último convidado cansar. Será fazer tudo isso sem precisar mostrar nada a ninguém. Será fazer tudo isso só para nós, de novo: por nós, de novo.
Quem sabe e eu sei, o momento é oportuno para enxergarmos beleza no mesmo semblante, no mesmo tom dessa tez, no agrado desse pé que te coça feito meia quente. Ainda nos acharmos jovens no próximo desafio de trabalho, ou num pernoite pela cidade. E que assim, mesmo, recicle, reaja, areje esta ideia confundida, que difunda que podemos ser de novo, tão ou mais novos que a primeira vez.
Muito quero, muito que quero, de querer as mesmas pessoas que me querem até hoje. As mesmas emoções, alentadas, que não são momentosas, todavia de longas datas. Datas que me chegam, de poucos e suficientes que me abraçam e falam audivelmente “Feliz Aniversário”. Ainda me regozijo, ainda me basta, perder de vista o tempo que nos conhecemos, que nos gostamos, em amigos, em namorados, em colegas, em parceiros, em humanos. São histórias que se formam, o tempo que dá acabamento, a revalorização diária do que temos em nós. Nós.
Deixar um bilhete como a primeira vez. Ser engraçado como no início. Valer como no princípio. Corresponder como que agora. Não precisamos, impreterivelmente, de novidades, necessitamos da sofisticação de não deixarmos desbotar. E tudo é fruto, estação, cíclico. Nós para com os outros, os outros para com nós.
Já me perdi nisso.
Nisso me tenha tão incerto como a última,
Porém tão certo como a primeira vez…#Emoçõessustentáveis, #sentimentossustentáveis.
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