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banco de imagem pixabay |
Do alto dos meus vinte e poucos anos já lido com sentimentos constantes como a saudade. E isso é a você, a mim, trinta, quarenta, cinquenta, mais. De repente dá nisso: saudade.
A saudade é um querer resgatar o tempo, que rasga lá atrás os anos que se foram tão rápidos. Saudade também advém de uma insatisfação momentânea, não encaixe com o tempo presente. Creio, sobretudo, que seja a força humana pela busca do que faz feliz. São as caras, os gestos, os sóis vistos a dois, o cheiro de perfumes antigos, tudo isso vem na saudade.
Vê-se que os anos acumulados geram mudanças – crescimento e retrocesso por área de atuação. Entretanto, algo se prende ao que ficou, que foi deixado não por escolha, mas por nexo da existência. Os brinquedos que corriam pela casa, a coberta rasgada predileta, o ritual do “boa noite”, ou aquele conselho chato pela manhã.
Há quem sinta saudade daquele tempo vago, ao mesmo tempo tão completo. Onde as horas eram jogadas a esmo, numa ilha de bate-papo e gesticular manso, perfeitamente cabido ao ocaso reinante. Alguns caíram no frenesi urbano, e isso se faz entediante quando o relógio controla os passos corridos. Um alento, a saudade nos sobra.
Outros de sua liberdade adolescente, onde não havia muito compromisso a não ser responder à chamada na aula. Há saudade nisso também. Daquela época em que se ficava o dia, tarde e noite na rua, juntamente com aqueles que porventura julgamos ser eternos amigos. Saudades dos meus dramas, pieguices no espelho com a primeira espinha.
Lá na frente sentirei falta até mesmo da loucura profissional, quem diria. Diga com propriedade quem deixou de acordar às 5 da matina, tomar um café requentado enquanto ajeita as vestes do dia. Transporte congestionado, ida e volta, junto às preocupações rotineiras de um escritório quadrado. Isso também concebe saudade, por incrível que pareça.
Já sinto saudades do que ainda não senti, vi, vivi. E isso é possível quando se considera a vida em seu máximo grau. Contemplo os amigos, cada familiar, meus lances românticos, na certeza latente de que um dia nossos momentos se irão, como eu… Pela distância, circunstância ou morte. Tudo vai, a saudade fica. Bom-senso é o cuidado por construir boas realidades que ficarão na memória, nossas lembranças são relicários.
Ao término deste espetáculo seremos órfãos do tempo. Ao mesmo tempo de beleza, que por ora vira crueldade, e dita a nós o limite de sermos quem somos…
Forasteiros efêmeros, desbravadores ingênuos, andarilhos de rotas falsas. Caminhamos rapidamente, vagarosamente, e ao redor tudo passa – cama bagunçada e danças sem par – e nada fica no lugar do primeiro encontro…
É aí que de repente, saudade.