A coragem de ser eu, Euzinha.
31 de janeiro de 2021Você confia na vida e solta o controle?
5 de agosto de 2021Lembrei da minha primeira infância. Eu lia histórias inventadas. Histórias que eu mesma criava, sem ao menos saber ler, abria e lia o caderno de receitas onde minha mãe gostava de escrever. Enquanto meus irmãos “levados da breca” lutavam, competiam e jogavam peteca, Eu, no fundo do quintal, dava aula para as bonecas e o caderno de receitas era o ingrediente perfeito, o único pseudo-livro que conheci lá em casa, tinha de mim já nessa idade todo o respeito! Depois, mais tarde, já na mocidade, fui estudar Letras. Veja que ironia. Sem ao menos perceber, ingressei nessa formação, mas lá no fundo eu me dizia: não era bem professora o que eu desejava ser.
Lembrei da época da escola e da alfabetização, o quanto eu amava os desafios de qualquer apresentação. Cada chamada oral, jogral ou coisa e tal, era pura diversão. Virava motivo para criar, brincar, inventar. Aprendia a dar asas à minha voz e imaginação. Depois, mais tarde, já às vésperas de entrar na universidade, descobri na verdade a vontade de trabalhar com comunicação. Mas lá no fundo eu sabia que não era bem jornalista o que eu queria ser.
A descoberta de quem somos nem sempre é linear
Depois quis ser tecnóloga, criar, inovar, aprender programação. Passei num teste por aí e fui estudar TI. Os livros viraram código, programas, funcionalidades e tudo mais para criar conexão. No final do curso, lembro bem o que eu dizia: “Deus me livre de fazer isso pelo resto da vida, que agonia!” Não queria me tornar, mas só usar, o que eu aprendia naquela formação. Acho que lá no fundo eu já sabia que essa tal tecnologia ocuparia dentro de mim o lugar do meio e jamais o fim. Meio para a conexão. Mais uma dicotomia, vejam só o que me aconteceria. Passei em outro teste e acabei por trabalhar com Tecnologia.
E lá se vão 20 anos. Entre uma função e outra, quantas profissões aprendi. A quantos furacões sobrevivi. Em quantas pequenas tragédias entrei e, em vez de chorar, eu sorri. Sabia que gostava de gente. E se tecnologia é sempre sobre conexão, sabia também que gostava um pouquinho de solidão. E porque eu era mulher, virei assistente e depois gerente e todas as posições que almejei, competentemente eu conquistei.
Tanto tempo passei ali e tanta coisa nova aprendi que minha alma curiosa já tinha até se que esquecido das outras tantas profissões com as quais sonhei me vestir. Como gerente aprendi a gostar ainda mais de gente, a primeiro ouvir e depois servir. Escutei, me adaptei, me esforcei, me preocupei, me decepcionei, me estressei, mas também me alegrei. Nesses 20 anos, fui com certeza muito feliz, até me casei, e descobri, depois de ser mãe, ah (suspiro), descobri que nada sei!
O desejo de ser mais feliz
Desejei ser ainda mais feliz, me reconectei com aquela Sandra que em algum lugar do passado eu já vi e não sei porque recolhi. Aquela que gostava da beleza e da natureza, que lia o caderno de receitas sobre a mesa e que sonhava, inventava e criava espaço para a arte calorosa da gentileza, ainda que enxergasse no mundo tanta frieza. Porque ama estar com gente e se aquece em contato com a sutileza, o que a arte propicia para lidar com tamanha dureza do dia a dia.
Mas e agora, o que quero ser? Que caixas eu quero esvaziar e que outras quero preencher? À procura das caixas, descobri que me encontrei nas pessoas que me lembravam que eu não sou o que estudei, nem tampouco no que trabalhei. Como é difícil entender, apesar de parecer óbvio. Todo mundo deveria saber!
E agora, nessa caixa de pandora, o que é mesmo que quero ser?
Encontrei a felicidade, encontrei uma comunidade. Veio uma amiga trazendo um espelho e me mostrou também uma tal de “womanidade”. Enfim, enxerguei pela primeira vez o que há dentro de mim. Por essa lente acolhedora de outras mulheres cuidadoras.
E agora, enfim, posso dizer…
Espera aí, não quero dizer nada! A hora de dizer é página virada.
Quero simplesmente SER e ver assim todas as possibilidades dessa Sandra, que aos 41 anos de idade, em meio ao caos de tanto a fazer, deseja SER. Simples assim, seja vestida ou despida de mim. Só SER.
Gostou dessa reflexão? Leia o artigo da autora A Coragem de ser eu, Euzinha
Obs: Este texto é uma homenagem ao dia do empreendedorismo feminino e a todas as mulheres que já foram, são ou serão parte da nossa história.
Imagem de Mystic Art Design por Pixabay
2 Comments
Gostei muito desta matéria foi muito útil para mim felicidade e sempre resolver problemas de frente para nunca deixar rastro pra traz nunca deixar para depois o que se pode aprender sempre obrigado
Aqui é a Carla Da Silva, gostei muito do seu artigo tem
muito conteúdo de valor parabéns nota 10 gostei muito.