Felicidade fragmentada
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15 de março de 2019A ruptura da comunicação é, de forma nítida, o grande obstáculo que interfere a autonomia das pessoas para a solução de conflitos. Não é à toa, assim, que em diversos momentos da vida nos deparamos com a seguinte situação: alguém falando contra o outro e não com o outro.
A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma prática de diálogo criada, justamente, para pôr fim a tal impasse. Marshall Rosenberg, psicólogo americano, é o responsável e idealizador dessa maneira inteligente de comunicar com afeto e eficiência, auxiliando o ser humano em sua caminhada.
“Pelo zunido das suas asas você me falou
E o que você está dizendo?
Milhões de frases, nenhuma cor, ôô
O que você está dizendo? Uh huh
Um relicário imenso deste amor”
NANDO REIS – RELICÁRIO
O processo da CNV estimula a compaixão entre os indivíduos por meio de quatro componentes: a observação, o sentimento, as necessidades e o pedido.
A observação se baseia no olhar atento do sujeito para o que está acontecendo ao seu redor, antes mesmo de formular qualquer questionamento ou juízo de valor sobre uma determinada situação.
O sentimento se refere ao modo de como a pessoa sente frente ao que está acontecendo a sua volta.
As necessidades dizem respeito a tudo que o indivíduo precisa, seja expressar ou ouvir.
E, por fim, o pedido trata dessa necessidade verbalizada, a fim de que este possa ser integralmente compreendido, ou seja, com o intuito de que sua necessidade seja atendida de maneira efetiva.
O mundo inteiro encontrou na CNV uma verdadeira luz para mediar disputas e conflitos em todos os níveis. Certas pessoas se utilizam da CNV para responder de forma compassiva a si próprias, exercitando o autocuidado; outras, buscam as técnicas para determinar maior profundidade em suas relações pessoais; e também há aquelas que a transformam em ferramenta capaz de firmar relacionamentos eficazes no trabalho ou na política.
Privilégios sentidos por quem resolve adotar a CNV como estilo de vida:
- A pessoa aprende a expressar, de modo empático, os próprios sentimentos, assumindo a responsabilidade por estes em vez de culpar os demais.
- Essa técnica, também, auxilia as pessoas a reformularem a maneira pela qual se expressam e escutam umas às outras, ao focarem a consciência em quatro áreas: o que se observa, se sente e se necessita e o que se pede.
- A CNV incentiva uma escuta ativa, respeito e empatia e leva a um desejo mútuo de cuidado e entrega, vindos do coração. As palavras, portanto, ao invés de serem reações repetitivas e automáticas, tornam-se respostas conscientes, solidamente baseadas na consciência do que se está percebendo, sentindo e desejando.
A Comunicação Não-Violenta estimula as pessoas a serem francas ao relatarem como se sentem em relação a alguém ou à determinada situação cotidiana, mas tal relato jamais é feito em tom acusatório ou humilhante. A CNV além de exigir um ponto de vista empático, requer que enxergamos um pouco mais além do que a vista alcança.
Temos de tentar compreender o Universo do outro e tudo que está por trás de suas ações. A exemplo, podemos mencionar a discussão de um casal ocasionada porque o marido, em uma sexta a noite, quer jogar futebol, quando a esposa gostaria de sair para jantar com ele. A esposa pode se sentir magoada e afrontá-lo dizendo que ele não tem tempo para ela e que prefere ficar com os amigos do que em sua companhia.
Por outro lado, o marido pode respondê-la de forma agressiva alegando que ela é muito ciumenta, possessiva e que se sente sufocado por quase nunca ter tempo para se distrair com o seu hobby que é “bater uma bolinha”. A discussão pode ficar ainda mais acalorada se farpas, mágoas passadas e xingamentos vierem à tona, podendo até trazer como consequência drástica a separação definitiva do casal.
Agora, fazendo uma retrospectiva da situação apresentada, caso esse mesmo casal fizesse uso da CNV, a discussão inicial, certamente, se encaminharia para outro rumo bem mais positivo: a mulher se queixaria, o homem refletiria consigo mesmo antes de proferir a palavra, notaria a carência da companheira, demonstraria empatia pelos sentimentos dela e revelaria os seus também, quem sabe dizendo: “Querida, amo você! Mas há eras só trabalho e não tiro um tempo para uma partida com o pessoal, isso me traz alegria, me sinto aquele garoto feliz da época em que nos conhecemos. Gostaria mesmo de sair com meus amigos hoje para jogar, não quer nos assistir e depois para a fechar a noite com chave de ouro, saímos para jantar …que tal? Nós dois e um jantarzinho bem romântico para comemorar nossa parceria de sempre! ”
A esposa bastante animada e feliz com a proposta pode reagir positivamente, também, respondendo o seguinte ao marido: “Sabia que a sua ideia é ótima e tenho sentido, ultimamente, que estamos sobrecarregados com o trabalho e os afazeres de casa, nem mais saímos com os velhos amigos – isso é saudável para qualquer relação – também preciso respeitar sua individualidade e te agradeço por me entender tão bem. Agora você vai ficar bobo, acredita que hoje mesmo minha amiga Natália me ligou querendo marcar um café e disse para ela que não podia. Na verdade, eu podia, mas achei besteira sair para jogar conversa fora… perda de tempo. Mas quer saber …isso é ganho de tempo, dar umas boas gargalhadas, respirar outros ares. Ela é muito alegre, leve, palhaça, vai me fazer bem trocar uns dedinhos de prosa com ela. ” Nessa hora, o marido acrescenta: “O João, namorado da Natália também vai lá jogar o futeba com a gente! ” A esposa ri e finaliza: Então fechado, já mandei whats para a Nat, te encontro no campo às 21h para o nosso jantar. ”
Deu para notar a “sutil” diferença de uma cena e outra. Não é mesmo?
A CNV pode ser útil mesmo quando o outro não a pratica ou a desconhece por completo. Você pode praticá-la unilateralmente e obter resultados formidáveis. O vídeo abaixo te inicia nessa arte linda da comunicação, nele o próprio Marshall Rosenberg por meio de uma singela apresentação de fantoches prende toda nossa atenção para a linguagem da Girafa em contrapartida à linguagem do Chacal.
Nas palavras da psicóloga Flávia Vieira: “A girafa é o mamífero terrestre com o maior coração. Seu longo pescoço oferece proteção ao permitir que ela possua a habilidade de ver longe no futuro, de alcançar coisas que são inatingíveis para outros e de permanecer fora de intrigas. Para que o sangue suba até a cabeça da girafa, seu coração tem que ser 43 vezes mais forte do que o do ser humano. Com um coração assim tão forte, a girafa ilustra na CNV a linguagem do coração, uma forma de se comunicar com o olhar mais amplo para as situações, desprovido de juízo de valor, apenas observando com empatia e uma conexão afetuosa. ”
Marshall resolveu criar a metáfora da Girafa e do Chacal para representar o modo pelo qual as nossas palavras, ações e intenções podem colaborar com uma conexão interpessoal autêntica ou nos afastar de vez dela. À medida que escolhemos expressar nossas necessidades por meio do coração ou do julgamento, escolhemos ser “girafa” ou “chacal”, respectivamente.
Pois então, o que estamos esperando para começar? E o que você escolhe, ser girafa ou chacal?
Eu mesma comecei meus estudos sobre CNV por conta. Na cara e na coragem, por meio da leitura do livro escrito por MarshalL, por vídeos maravilhosos que abordam o conteúdo do livro, por atividades práticas realizadas em grupos de Oficinas de CNV, pelo curso de Dominic Barter – seu aluno e percursor. E posso dizer que todas as vivências que tive até agora em relação ao tema foram únicas e fantásticas, sem levar em conta as pessoas maravilhosas que conheci nessa trajetória. E a dica que eu deixo aqui para quem não souber da existência de algum desses grupos em sua cidade: ESTUDE BEM O TEMA, MERGULHE NESSA VIBE E INVENTE UM!
Da minha parte, fico aqui esperançosa aguardando que meus leitores levem para a vida essa inusitada percepção – transformativa e transformadora – e me tragam, assim que puderem, da forma que quiserem, as boas novas.
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2 Comments
Muito bom
Gratidão por comentar e compartilhar Vanderleia, estamos juntas!