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11 de junho de 2015Vivemos imersos num mundo que nos vende a toda hora a felicidade como mercadoria, uma aspiração ou, ainda, um sonho impossível. Como se fosse factível entrar em um supermercado, ir direto à prateleira mais próxima e levar para casa uma porção de felicidade. Será possível ser feliz comprando um livro ou mesmo fazendo um curso online que vende felicidade?
Isso não seria a transformação da felicidade em mercadoria, produto, estilo de vida? Sim, buscamos a felicidade, pois essa é uma busca infindável do humano. Desde a Grécia antiga, os filósofos clássicos como Homero, Sócrates, Platão, Aristóteles e Epicuro entenderam a felicidade como a busca primeira do homem. O fundamento maior, a essência.
Pois bem, vamos viajar no tempo? Vamos filosofar com os sábios?
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Para Homero, a busca da felicidade está ligada à tragédia da condição humana. O que caracteriza a mortalidade é a alternância entre prazer e a dor, a felicidade e o sofrimento. Ou seja, há uma alternância de sensações, momentos felizes e momentos tristes, fazendo parte da vida de forma natural. Mas o que faz do homem um herói é essa máxima: “o herói não se embriaga de prazer, assim como não se desespera com a dor”[1].
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Acredito que ainda vivemos essa alternância em nossos dias, essa balança entre prazer e dor, felicidade e sofrimento, conquistas e perdas. Vivemos essa dualidade e nos sentimos angustiados e sonhadores. O problema é que nós nos apegamos à dor e ao prazer e diferentemente do herói, nos tornamos prisioneiros dos sentidos e ficamos a mercê do apego, da ilusão.
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Para os gregos, em plena expansão da democracia, o indivíduo só se realiza como tal numa cidade justa. A felicidade e a cidadania são faces da mesma moeda. A felicidade está ligada a virtude do cidadão, que pensa organicamente em uma justiça social. Nós evoluímos em muitos aspectos, sobretudo, nas ciências e tecnologia. Mas, talvez tenhamos perdido nossa conexão maior com o todo, com a cidadania e a felicidade da cidade justa. Penso que esse seja o primeiro marco, o conceito embrionário da sustentabilidade, ou seja, da felicidade sustentável.
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Em Platão, há uma relação próxima entre a harmonia interna do indivíduo e a harmonia social. “Se o que move o indivíduo é a busca da felicidade, torna-se imprescindível a construção de uma cidade em que essa felicidade se possa realizar”[2] Quanta sabedoria dessa primeira civilização! Quando li essa afirmação me perguntei: Quando foi que perdemos essa conexão?
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Se essa é a nossa busca primeira desde a antiguidade, por que estamos nos afastando da felicidade, nos enganando, colocando em seu lugar outros valores, batendo em portas sem respostas? Será que estamos ludibriados pela ilusão do individualismo e do prazer a qualquer custo e a qualquer hora? Será que perdemos o foco para o fundamento da nossa busca essencial de sermos felizes?!
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Não há uma receita para a felicidade, mas podemos pensar que os desafios da vida exigem de nós uma postura e que o mais importante é saber COMO reagir a estes desafios, que podem ser uma doença, a perda de alguém querido, uma falta de sentido e de propósito de viver, uma solidão doentia, falta de amigos e de um amor.
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Sócrates, autor da célebre verdade “Conhece-te a ti mesmo”, acreditava que o indivíduo sem a coletividade, não era nada. A busca socrática era realizar de forma coerente e harmoniosa, a relação entre felicidade individual e coletiva. Para ele, aquele que sabe o que é verdadeiro age corretamente. “Conhece-te a ti mesmo significa que a felicidade humana, a realização íntegra da excelência do ser humano, depende do conhecimento de si, isto é, do conhecimento do homem no plano da sua essência”[3].
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Ao seguir o pensamento socrático, entendemos que não dá para ser feliz sozinho, pois para o filósofo a realização de uma vida feliz (moral, pessoal, cívica e política) tem como requisito o conhecimento essencial de tudo que diz respeito ao homem, individual e coletivamente.
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Não seria esse o propósito dos que lutam pela sustentabilidade e dos que acreditam na felicidade do ponto de vista da igualdade, das oportunidades, da justiça social, da partilha do saber, da proteção do habitat natural, dos cuidados para consigo e com o próximo? Não seria esse o sonho e luta dos grandes idealistas como Mahatma Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Dalai Lama, Papa Francisco e tantos outros?.
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Talvez, tenhamos que voltar nosso olhar para a filosofia grega e aprender com os sábios os segredos de uma vida feliz. Talvez tenhamos que sair da nossa zona de conforto do individualismo e olhar para além dos muros das nossas casas, dos anúncios da TV, dos apelos do consumismo e plantar boas sementes em prol da coletividade! Que a felicidade de um, seja a felicidade do Todo e vice-versa.
“Em suma: a felicidade é o anseio de todos os homens; somente a virtude proporciona a felicidade; somente o saber proporciona a virtude; a alma é a sede do saber e só por ela podemos adquiri-lo”.
Depois vem Platão… mas ele será a inspiração para um próximo texto! A filosofia dos sábios gregos parte II, aguarde!
Esse texto foi inspirado pelo livro Felicidade, de Franklin Leopoldo e Silva. Leitura que recomendo.
Abraço Fraterno!
Imagem de Jill Wellington por Pixabay
[1]SILVA, Franklin Leopoldo, 2007, p. 15.
[2] p. 18
[3]SILVA, Franklin Leopoldo, 2007, p..33
2 Comments
Excelente texto!
Obrigada Sandra, sua opinião é muito importante para nós! #gratidao