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5 de outubro de 2015Pare, não implore amor
16 de outubro de 2015Após um mês mochilando pelos EUA voltamos para nossa vidinha diária e só posso dizer que aprendi o valor do custo agregado do Whatsapp. Fantástico. Economizamos muito com telefones. Saí do Brasil com medo do cartão de crédito e firme no propósito de não sucumbir às delícias do consumo, já que estaria com uma adolescente de 16 anos a tiracolo.
Após mais um dia de Arte & Galerias em WDC, ao voltarmos para o hosteldeparamos-nos com uma “mega super blaster” loja de departamentos. Os olhos atentos da garota ao meu lado brilharam e ela gritou: “mãe é a Forever 21, vamos entrar!”. Fui literalmente arrastada para aquela loja colossal. Senti um cansaço só de olhar as escadas rolantes, como uma montanha russa indo e subindo com dúzias e até centenas de mulheres, homens, crianças carregando roupas, sapatos, bolsas e etc… nos braços, ombros, ( para quem é de São Paulo, parecia a Rua 25 de março, só que VIP) – “Mãe, olha só isso, que maravilha”, quase chorando ela disse: “ vem comigo pois você precisa participar desse grande momento da minha vida!”
Ops! Eu tinha ouvido isso? Como assim! Grande momento da vida?! Não me ouviu, e já foi sumindo entre as araras cheias de roupas.
Depois de 2 horas fui à captura da mocinha e passeando entre as imensas fileiras de roupas, observei a loja, o entorno, as mulheres de todas as idades, culturas, raças, alguns homens também. É bem engraçado observar as pessoas provando roupas. Parecem um bando de “passarinhos cantando”. No provador, cada vez que uma entrava, as outras se entreolhavam e davam suspiros e quando as portas se abriam era como se estivesse ali uma celebridade, que podia ser de Sophia Loren a Scarlet Johansson…
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“Mãe olha só o preço disso!” – Ufa, te achei! Vamos embora… Ia dizendo, mas ela não escutava mais. – “Olha a qualidade, maaeeee, nunquinha na vida íamos comprar uma roupa destas por este preço. Isso sim é Finanças, mãe”.
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E foi nesse momento que percebi que aquelas roupas eram muito mais do que roupas, eram experiências. Cada peça de roupa trazia em seu conceito uma experiência para quem a comprava. Era como se viesse junto com a etiqueta um “mundo secreto que só a dona da coisa comprada sabia”. A roupa era a porta para aquele mundo de faz de conta. Aliás, conta, cartão de crédito, ops acordei do devaneio!
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Bom, querida, adorei participar do “melhor momento da sua vida”, mas o que temos para hoje é: estamos no início da viagem, 22 dias de alimentação, hospedagem, transporte, uma mala que suporta apenas 30 quilos e lembre-se que somos “noiszinhas” que a carregamos. Além disso, só para constar, nosso gasto diário deverá ser R$ 70,00 dólares (all in) e, portanto terá que escolher apenas uma peça de roupa por até U$ 20 dólares, se quiser almoçar hoje. E por favor, decida nos próximos 15 minutos se não eu vou surtar, e você terá que me internar, e com certeza o nosso seguro viagem não cobre surtos psicológicos. – Pronto falei e fui para o caixa.
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A reação dela foi a mesma coisa que terapia de casal. Acusações, chantagens, queda de pressão, ameaças, auto piedade, foi dos 16 aos 5 anos de idades em 3 segundos. Fui chamada de nazista, preconceituosa, desinformada e que era uma velhinha amarga por não ter tido uma forever 21 na minha época etc. etc.
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E eu nada disse, fiquei na fila do caixa, com cara de HP 12 c. Sabia que não podia ceder. Ela veio para o caixa com ares de sofrimento terminal, cada peça que ia deixando no balcão era uma parte do seu corpo que ficava. E entre soluções e palavrões, escolheu uma peça pela qual pagamos 18 dólares e saímos correndo da loja.
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Lá fora, respirei aliviada e percebi que a gente procura no consumo algo que nos dê experiência de qualquer tipo: emocional, sensorial, física, comportamental e que tais experiências podem vir embrulhadas em um lindo vestidinho ou em uma dúzia deles, é a gente que decide.
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