“Você escolheu a batalha pela felicidade?”
2 de outubro de 2020AOS 41 DO SEGUNDO TEMPO, DESCOBRI O QUE QUERO SER
8 de março de 2021Hoje meu personal algoritmo sugeriu essa foto para o momento #tbt. Uma imagem de mim, sob as lentes e olhares da pequena Liv. Essa imagem me fez pensar numa história que vou compartilhar com vocês. Essa sou eu, Euzinha. De olhos cansados e postura relaxada, sentada na varanda de uma pousada, admirando a natureza ao amanhecer, no dia em que Liv completou 6 anos. Dia em que eu também completei 6 anos (de maternidade) e renasci de uma profunda transformação. Aliás, uma revolução de mim mesma.
Nesse dia, uma sensação muito estranha me fazia perceber que eu não me sentia mais a mesma, não era a mesma. Aliás, ninguém que esteja vivo é, como as águas de um rio também não o são depois de cada milésimo de segundo que passa. Mas no meu caso, meus caros, a maternidade contribuiu muito para as ondulações nessa corredeira e a morte precoce de minha mãe funcionou como uma cachoeira.
Nesse período de 6 anos, cheguei ao topo do que muitos consideram sucesso pessoal e profissional e sabe o que senti quando lá cheguei? O que muitos sentem. Uma profunda desconexão e uma sensação de incompreensão ensurdecedora. Um excesso de mundo e um vazio de mim.
Um livro e um despertar
No ápice dessa guinada “bem sucedida”, nessa mesma pousada, eu começava a ler Florescer, que ganhei de uma amiga. Mal sabia ela (nem eu) o quanto aquele livro mudaria tudo dali para frente. Martin Seligman e a psicologia positiva, ao contrário do que possam pensar, não positivou nem tampouco complicou nada. Só colocou um ponto de luz naquilo que eu buscava entender, o meu próprio vazio.
Um vazio tão grande sob uma luz tão forte que me fez despencar vertiginosamente para dentro e só agora, 3 anos depois, posso dizer que encontrei o fim dessa descida. No mesmo lugar em que encontrei um novo começo. Encontrei a mim. Nua de qualquer preconceito ou julgamento, culpa, raiva ou arrependimento. Me encontrei, aterrada nesse chão seco, rochoso e cheio de nutrientes. Rodeada por essa natureza que se veste de cascas rachadas, troncos retorcidos e folhas caídas para dar lugar de destaque às flores do cerrado. Natureza essa que é una e ao mesmo tempo se veste de diversidade e de estações para receber, sustentar e deixar ir cada ciclo, cada vez mais bela e resiliente.
Nesse dia, no momento dessa foto, eu me sentia cansada e ao mesmo tempo feliz. Cansada de carregar muitas coisas que já não faziam sentido, mas que haviam se tornado parte de mim. Feliz por descobrir que não preciso mais carregar tantas coisas, seja porque já são parte de mim ou porque podem seguir vida própria sem mim. Não precisam que eu as carregue, controle ou me preocupe, pois a vida se encarrega de as ocupar, acomodar, conduzir e cuidar. Já posso soltar muita coisa. Posso em vez de “pré- ocupar-me”, apenas observar e ocupar-me de mim e do presente da vida que é o agora. O que posso fazer pelo mundo e o que o mundo espera de mim (já).
A presença que traz ao momento presente
Nesse instante, nesse agora em que vos falo, o que mais vejo, sinto e coloco luz são as experiências ingênuas e criativas da minha filha, o tempo que passamos juntas e o tempo que passo junto com minha própria criança que andava um bocado esquecida nos recôncavos da minha memória de infância. Andava lá, descobrindo, explorando e se divertindo com as descobertas que ando fazendo sobre mim e sobre o mundo.
Desapeguei da minha profissão, da minha condição de adulta, das minhas funções, para aprender coisas novas, conhecer novos mundos, novas pessoas. Um novo eu. A profissão? Deixei para traz os títulos. Me libertei do compromisso de me apresentar formalmente, para me apresentar como sou, simples assim, eu em mim.
Assim, por hora, sigo em paz e feliz nesse novo lugar, de relaxamento, reserva e descanso que se tornou a minha morada. Mesmo em meio às transformações e acomodações. Sigo sendo eu, em casa. Um grãozinho de areia que acredita que pode mudar o mundo mudando a si mesma e ainda que não mude nada, já muda tudo. Sigo sim mais leve que nunca, em paz e feliz com a vida que faz pousada em mim.
Imagem de Carmem Cândido Rodrigues Carlotinha por Pixabay
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