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26 de fevereiro de 2019Felicidade fragmentada
7 de março de 2019Desde cedo, na infância, tenho um fascínio enorme por toda magia que envolve as pessoas durante os quatro dias de folia do Carnaval. Justamente porque são nesses dias que a vida se torna, literalmente, uma festa contagiante. Ela é celebrada, sorvida gota a gota, desperdícios zero. A rotina se quebra, fantasias ganham movimento. Espaços se abrem para um baile de cores e muita purpurina. A felicidade se encontra em plena avenida, seja como passista, mestre-sala ou rainha da bateria. E o bloco da alegria invade os bairros, deixando a cidade com uma cara de menina travessa.
Há luzes, brincadeiras, jovialidade. Ninguém lhe diz o que você não pode, pois nessa festa cada um pode sim ser o que bem quiser. Um basta às formalidades excessivas e comportamentos vindos em série, de fábrica: padronizados, idênticos.
O apito toca na sexta feira e é dada a largada, a fim de que cada ser humano parta em busca de seu “eu” mais original, diferente e único. A partir de tal pensamento, me surgiu uma reflexão: a de que o Carnaval é efêmero, uma vez que ele passa e acaba fatalmente. Acaba na quarta-feira. Prefiro assim dizer, apenas ”quarta-feira”. Porque depois do deleite com os tons tão vivos das alegorias e estandartes, pensar em cinzas e na cor cinza me soa um tanto “deprê”. Por acaso seria algum verso “clichê” como a música do Los Hermanos: “Todo Carnaval tem seu fim”, conclusão um tanto pessimista, não?
Na minha perspectiva, nem todo Carnaval tem seu fim, a começar pelos amores que brotam em meio a serpentinas e confetes seguindo rumo ao altar. Pois é, nem tudo que acontece no salão, fica no salão. Conheço muita gente que encontrou o amor da vida na folia, “por aí”.
“Sou Zé Malandro, sou de rua
e bem que eu gosto
São Jorge é quem manda na lua
me disse que eu tudo posso
A vida continua nua e crua
e muito boa
O vento é o leque da pessoa
que andava à toa
Mas tudo bem, cê tava por aí também…” (MART’NÁLIA, POR AÍ)
Romantismos à parte, aquilo que considero mais especial de todos esses assuntos carnavalescos é o fato de que tem gente que parece que cultiva o Carnaval na alma, mesmo quando a data festiva fica para trás. Isso mesmo, tem gente que é o Carnaval em estado puro, porque tem cor reluzente no olhar e carrega flores no peito. Além disso, essa gente é dona de um bom humor ímpar e manja a ginga do cotidiano, cultivando o ano inteiro uma vontade inabalável de felicidade.
E não é difícil reconhecer essas pessoas com DNA de Carmen Miranda ou Sidney Magal pelo Universo a fora. Pois o jeito que elas levam a vida com motivação, nos remete à Ivete pulando e animando o público eufórico. Essas pessoas são o verdadeiro axé da vida, tendo em vista que você sente uma energia tão boa ao se aproximar delas.
Por isso meu povo, não vamos deixar o samba morrer. Ele pode muito bem ser passageiro na avenida, mas [ô abre alas] que o nosso coração seja, durante todo calendário, um sambista impagável e que a nossa escola seja sempre campeã, à medida que vamos superando nossos próprios limites com as labutas diárias. Do fundo do coração, eu só desejo que a gente possa ser o que quiser não apenas nesses dias festivos. Afinal, Carnaval mesmo, para mim, é estado de espírito. SIM’BORA!