Não olhe para trás, por favor
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17 de dezembro de 2015
Esperar o Natal nem sempre é muito fácil, pois ficamos cheios de expectativas, ansiosos e com aquela sensação de que novembro vai durar 60 dias. Essa expectativa de felicidade futura, não é ruim, pode ser legal, mas se administrada corretamente. E pensando sobre isso, lembrei-me de uma ocasião.
Era novembro e como as mães de primeira viagem, estava cheia de ideias e energia com os filhotes. E algo me incomodava muito no Natal, a impaciência dos meus pequenos na hora de ganhar os presentes. Eles mal cumprimentavam os parentes porque estavam compenetrados nos embrulhos em suas mãos, e no fundo eu senti um pouco de vergonha.
Então, decidi fazer uma experiência com meus filhos. Eles tinham 4 e 7 anos na época. A ideia era fazê-los aprender a lidarem com a expectativa, ansiedade e frustação. Como será que se ensina a lidar com a ansiedade? E como se aprende? Como criar habilidades para superar frustrações?
Minha constatação empírica era de que nem tudo na vida nos será dado na hora, do jeito e como a gente deseja, portanto, aprender e ensinar a lidar com tais sensações sem parecer castigo, punição e sofrimento, é essencial.
Não queria que meus filhos associassem pessoas a coisas e coisas a afeto. Intuía que aquilo não os ajudaria na vida adulta. Era preciso fazê-los criar musculatura emocional para aprender a lidar com a frustração. É como aprender a andar de bicicleta, no começo a gente cai, chora um pouco e depois vai ficando bom.
Como viver nos dias de hoje sem se frustrar? Como desvincular coisas materiais de afeto? Como saber esperar? A ideia de ter filhos que não tivessem essas habilidades me afligia, pressentia que na vida adulta, a habilidade de lidar com frustrações e a espera seria um diferencial cognitivo em suas vidas. (Ah! Mães!!!).
Então decidi que naquele Natal faríamos diferente. Comprei os presentes das crianças em novembro, pedi que embrulhassem com caixas enormes, com bonitos papéis de embrulhos, cheios de fitas e laçarotes, e os coloquei na estante da sala em Novembro e anunciei: – Filhos estes são os seus presentes de Natal e nós vamos guardá-los até o dia 25 de dezembro. Por enquanto, eles ficarão aqui, na estante, esperando o dia certo chegar. (Era importante, não escondê-los), assim a imagem acentuaria a sensação.
A cara que os quatro olhinhos amendoados fizeram quando eu disse, “vamos esperar até o Natal” fizeram me sentir a mais perversa e desumana bruxa sanguinolenta de Tim Burton.
Na primeira semana, os dois passavam horas apertando os pacotes, balançando-os, imaginando o que teria ali dentro. Faziam dúzias de perguntas, pediam dicas, charadas, games de adivinhações, tentavam me seduzir a todo custo. Eu resistia, intuía que aquilo era normal e não o contrário. Até que chegou o dia, era Natal e então abriram as caixas e fizeram uma festa, gritinhos e suspiros. Felizes contavam para as tias, com os olhos brilhantes de orgulho que tiveram que esperar mais de 30 dias para abrirem os pacotes. E disseram logo em seguida: – O mais legal também foi ter aguentado, achávamos que não íamos conseguir esperar, mas aguentamos né, mamãe? Somos fortes!
Yes! Era a minha vez de gritar! Eles se sentiam fortes por ter conseguido administrar a frustação de não ter o que desejavam na hora e, portanto, perceberam que a espera nem sempre é ruim. Essa é uma importante habilidade para lidar com dinheiro na vida adulta, “Tempo” é tudo em relação a dinheiro. Feliz Natal e muita boa “espera” para vocês.